terça-feira, 28 de agosto de 2012

CONVERSA


"O que você procura?", diz ela.
Tudo está em sua mente. O modo como você enxerga as coisas. Como deseja que elas sejam. São o que você as faz ser. São pequenas ou grandes como você. São tristes ou felizes como você. São loucas ou sãs como você. São o que você diz. São o que você deixa de dizer... Mais uma vez, Ruiva. Deve ser o vermelho. Devem ser os olhos. Deve ser qualquer coisa.
Eu penso ainda na outra Ruiva. Penso na Morte. E penso que esqueceram de dizer o que não é óbvio. Penso que a vida não tem nada de óbvio. Penso que não tem nada a fazer sentido. Penso no improviso de tudo. Penso no solo que errei. Simplesmente por errar. Penso na música que ando ouvindo. Penso na distância. Penso na saudade. Penso na minha bebida. Penso na minha vida. E o cigarro queima. E eu penso. Penso... Pode ser isso... Já me disseram que pode ser isso. Pensar demais. Não é confortável descobrir que tudo que te disseram é mentira e que a vida é bem mais podre e entediante na realidade por essência. Mas as pessoas estão na realidade de aparência. Elas realmente acreditam nisso. E cooperam para manter essa realidade forjada. Sempre o conto de fadas. Inventaram a felicidade. Fizeram você acreditar nela. E depois fizeram você se culpar por não tê-la. A faculdade que você não fez. O emprego que você não conseguiu. O par perfeito que você nunca achou. O carro que você não comprou. O deus que você não acredita. O filho que você não teve. A vida que não existe. Mitificaram a vida. A vida é orgânica e se decompõe. A vida é dor. É visceral. É viva. Não é mito. Não é perfeita. É defeituosa. É crua. Mas o Feio não está na moda. O Estranho é estranho. O Preguiçoso é preguiçoso. O Louco é louco. Eu não quero nada disso. Não vou achar por aqui o que eu quero.


"Não procuro nada.", respondo.

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